top of page

Cape Coast Castle, surpreendente e emocionante

  • Foto do escritor: Carol Ussier
    Carol Ussier
  • 21 de ago. de 2017
  • 3 min de leitura

Cape Coast Castle / Cabo Corso / Forte de Cape Coast. Você pode chamá-lo como quiser desde que não deixe de o visitar quando estiver em Gana! Os motivos?

  1. O lugar é muito grande e tem uma arquitetura bonita (quando comparada a de outros fortes);

  2. Existe um museu dentro do forte que, apesar de não ser muito grande, é bem conservado e bem didático (é o melhor lugar para aprender a história de Gana - e consequentemente do Brasil também);

  3. Existe uma visita guiada de hora em hora bem detalhada (das 9h às 17h), com guias experientes e que vai mexer com você! Sério, não deixe de fazê-la;

  4. A vista do forte é incrível e o pôr-do-sol também.

Ou seja, tem motivos para todos os gostos =). O que eu achei legal é que ele não é um lugar feito para estrangeiros. Em todas as vezes que eu estive lá tinha gente de vários perfis: grupos de estudantes ganeses em uma excursão da escola ; um grupo de militares (pareciam soldados); famílias de Afro-Americanos que vieram a Gana para conhecer seus parentes; muitas famílias ganesas e, é claro, alguns turistas de outros países. E a entrada é GHS 40 para adultos e GHS 20 para estudantes.

Os portugueses foram os primeiros a chegarem na região de Cape Coast, interessados na época no ouro daqui (daí vem o nome da colônia "Gold Coast"). Diferentemente do que aconteceu no Brasil, a relação dos portugueses com os nativos daqui era uma relação comercial: eles traziam tecidos, vinho, armas/munição e cerâmica e trocavam por ouro. Para tentar aumentar seu lucro, os portugueses passaram a comprar escravos de outras regiões da África (São Tomé e Mali, por exemplo) para trocar por ouro - sim, existia um mercado de escravos que já "abastecia" o Oriente Médio.

Com o mercado de ouro em alta, outras nações da Europa também se interessaram pela região e em 1653 o forte foi construído por suecos. Pouco depois ele passou pelas mãos da Holanda e da Dinamarca, até ser conquistado pela Inglaterra em 1664 e muito tempo depois (1844) passou a ser a sede da colônia britânica.

Durante todo esse período - desde os portugueses até os ingleses - o forte foi utilizado como "armazém" de escravos. A história é muito triste e como o próprio guia comentou ao final do tour, não dá para tentar achar um culpado. Habitantes de toda a região ocidental da áfrica eram trazidos por líderes de grupos africanos a Cape Coast (e também a outros fortes - são mais de 40 na costa de Gana). As pessoas que sobreviviam ao trajeto eram jogadas em masmorras, onde ficavam entre 3 semanas a 3 meses, sem luz, praticamente sem ventilação e vivendo de suas próprias fezes.


Os que conseguiam sobreviver a esse período (incluindo, no caso de mulheres, abuso sexual e muitas vezes uma gravidez em péssimas condições), eram então colocados em "exposição" às diversas nações europeias (portugueses, britânicos, dinamarqueses...), que escolhiam qual "mercadoria" gostariam de levar, em troca de especiarias da europa.

Os escravos escolhidos eram então levados até os navios, passando por essa porta da foto ao lado, que hoje é conhecida como "door of no return" ( ou porta sem retorno). Estima-se que mais de 12 MILHÕES de pessoas foram escravizadas e comercializadas na áfrica ocidental. Desse total, 1/3 foi levado para o Brasil.

Olhando para essa porta, depois de uma visita bem emocionante e triste pelas masmorras, só o que eu pensava era: "quantos antepassados de amigos e conhecidos meus passaram por aqui?".

No meu grupo da primeira visita guiada que fiz havia uma inglesa, que depois acabou virando minha amiga (ela estava hospedada no mesmo dormitório que eu). E ela compartilhou um pouco comigo o quanto ela também ficou emocionada durante a visita, mas se sentindo culpada.

Como eu disse, o objetivo não é tentar achar culpados agora e nem julgar o que aconteceu tanto tempo atrás. O nosso guia - chamado Francis - falou ao final "ainda existem diversas formas de escravidão no mundo moderno e o nosso objetivo é que vocês saiam daqui dispostos a acabar com isso.. amem uns aos outros e lutem juntos por um mundo mais justo". E foi assim, com essa frase, que o tour de cerca de 1h30 por todo o forte terminou, junto com um silêncio profundo de todos os participantes.

É difícil a visita? Sim. Você fica triste? Sim. Mas com certeza eu saí de lá me conectando muito mais com Gana (apesar de suspeitar que eu não tenha nenhum DNA africano) e com algumas lições aprendidas.

Por favor, quando vier a Gana, permita-se viver essa experiência também!

Comments


Carol Ussier
IMG_20220202_191557_edited.jpg

Uma mulher itinerante, que se encontra na diversidade, no coletivo e na profundidade. Morei por quase 7 anos na África Ocidental, onde me reconectei com minha expressão no mundo: a dança. Acredito na arte como ferramenta de transformação e de ativismo, e sigo pelo mundo tentando entender a relação dos povos com os corpos e a dança. 

 

Conheça mais

 

Cadastre seu e-mail

Fique por dentro de todas as novidades

bottom of page