5 coisas que aprendi fazendo a Trilha Inca
- Carol Ussier
- 19 de fev. de 2017
- 5 min de leitura
Fazer a Trilha Inca foi um processo muito marcante na minha vida. Antes de ir para o mochilão entre Bolívia/Peru eu estava passando por uma fase muito ruim. Havia engordado mais de 13 quilos, não tinha auto estima, tinha perdido a confiança em mim mesma. Enfim, foi uma fase difícil. Todo o mochilão foi um ponto de virada para mim. Mas a trilha em especial foi um momento importante e cheia de aprendizados que podem parecer óbvios mas que em muitos momentos da vida nos esquecemos.
APRENDIZADO 1: Quando você sabe onde quer chegar fica mais fácil
Eu já comentei em outro post sobre o que esperar em cada dia da trilha. O que todo mundo fala é que o segundo dia é o mais pesado de todos. E fisicamente ele realmente é: é o dia com maior desnível e também maior altitude, o que com certeza dificulta bastante. Mas emocionalmente o dia mais desgastante de todos para mim foi o primeiro e a razão para isso é super simples: parecia que nós nunca chegaríamos ao acampamento. A caminhada do primeiro dia é realmente tranquila, mas ela é no meio da mata e eu não conseguia ver o ponto de chegada. Apesar do guia tentar me motivar dizendo a cada 5 minutos "força, estamos chegando", como eu não via, tinha a sensação de que eu nunca ia chegar. E isso definitivamente mexeu com meu emocional, ainda mais ansiosa do jeito que sou. No segundo dia, por outro lado, durante toda a pior parte do trajeto é possível ver o objetivo final (o cume). Eu sabia onde eu tinha que chegar e para onde todo o meu esforço estava me levando. E isso fez toda a diferença.
APRENDIZADO 2: Permita-se fazer pequenas pausas
Em nossa vida por muitas razões diferentes negligenciamos a importância de não fazermos nada por um tempo. Quem trabalha em escritório vai reconhecer a seguinte rotina: meta para entregar, prazo apertado e o chefe cobrando. Você está sentado em sua mesa desde as 9h da manhã e se sente exausto. Não vê a hora de terminar logo o que precisa fazer e não vai parar até terminar, o que acaba demorando muito mais do que você esperava. O seu dia acabou sendo muito menos produtivo e você termina o dia frustada/o, mesmo tendo terminado a tarefa. Existe uma teoria chamada envolvimento total que diz que devemos gerenciar nossos níveis de energia, ao invés de gerenciar o tempo. Super recomendo a leitura desse livro =). Eu já tinha estudado sobre isso em mais de um momento da minha vida, mas a vivência na Trilha Inca foi a experiência mais forte que vivi nesse sentido. Durante toda a trilha, mas principalmente nos momentos mais pesados, a cada 20 metros que eu andava eu parava por 10 segundos. Ao invés de tentar andar um monte e fazer pausas longas, eu fazia essas pequenas pausas durante todo o percurso. Além de serem MUITO revigorantes elas tinham tudo a ver com o próximo aprendizado.
APRENDIZADO 3: Respeite seus limites
Respeitar seus limites vai muito além de saber seus limites físicos, mesmo durante a trilha. É super importante se conhecer e saber dizer não. Saber diferenciar aquilo que te faz bem daquilo que te dizem que te faz bem. Eu sempre achei que eu conhecia meus limites, até eu perceber que eu os tinha negligenciado completamente por muitos anos. Eu sou naturalmente uma pessoa altruísta e otimista, que tende a se importar mais com os outros do que consigo mesma. E o exagero dessas caraterísticas me levou para o estado que eu comentei no início do post: ausência de auto estima e de amor próprio. Eu não estava 100% preparada fisicamente para a Trilha Inca e por isso foi tão importante respeitar meus limites. Além disso, eu estava com um braço quebrado. E isso com certeza foi outro limite que eu precisei respeitar. Eu não tinha forças e nem condições para carregar todas as coisas, por mais que eu quisesse. Eu não conseguia mexer meu braço para trocar de blusa e por isso passei os 4 dias da trilha com a mesma. Tive que pedir ajuda em muitos momentos e dizer que não conseguia em tantos outros. Como falei, pode parecer uma coisa super óbvia, mas você já parou para pensar se você efetivamente faz isso? Durante a trilha eu tive muito tempo para refletir sobre o que me fazia não me respeitar. E esse foi o meu quarto aprendizado.
APRENDIZADO 4: Não se preocupe com o julgamento dos outros
Por um milhão e meio de razões, eu sempre me preocupei muito com o que os outros pensavam/pensariam de mim. Mas muito mesmo. E não foi diferente no início da trilha. Ao invés de me preocupar com a dor que eu estava sentido no braço quebrado ou com a falta de ar, eu só me preocupava com o que o guia e as outras pessoas do grupo iriam pensar se eu quisesse parar muito. Eu tinha certeza que eles iriam me achar despreparada demais, ou preguiçosa, ou fraca. E eles podem até ter pensado isso. Mas qual é o lado bom de me preocupar com essas coisas? Nenhum! E por isso que eu disse que respeitar os próprios limites muitas vezes está completamente relacionado com parar de se preocupar com o julgamento dos outros.
No segundo dia da trilha eu fiz uma promessa a mim mesma: eu pararia de viver preocupada com o julgamento dos outros. E desde então a minha vida tem sido muito mais leve, verdadeira e feliz. Existe uma frase da Chimamanda Ngozi que traduz o que eu aprendi no ano passado: "it is not your job to be likable. It's your job to be yourself. Someone will like you anyway".
APRENDIZADO 5: Nada é permanente
Principalmente quando estamos passando por algum momento difícil temos a sensação de que aquele sentimento existirá para sempre. Mas nada é permanente, nem os momento ruins e nem os bons. Durante os 4 dias da trilha nós subimos e descemos inúmeras vezes. E era extremamente frustrante quando chegávamos ao final de uma descida apenas para nos depararmos com mais uma subida. A vontade era de criar uma passarela entre as montanhas, para evitar esse desgaste de ter que descer, para subir tudo de novo. Mas isso é a vida: um eterno subir e descer. Para mim as subidas são momentos muito difíceis, que parecem não acabar nunca. Mas ter consciência que ao final da subida haveria novamente uma descida, me ajudou muito a continuar caminhando.
E essas 5 coisas que eu aprendi durante a trilha contribuíram para o mais importante de tudo: eu voltei a me amar e descobri que ter amor próprio é uma chavinha importante da felicidade. E você, qual foi sua experiência mais transformadora?
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